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Brasileiro Apolônio de Carvalho participou da libertação da França há 80 anos

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Nesta quinta-feira (15), a França lembra os 80 anos do desembarque na Provence, no sul do país. A cerimônia contou com a presença do presidente Emmanuel Macron. Desde 6 de junho, o Dia D do desembarque aliado da Normandia, uma série de eventos recordam os 80 anos das jornadas que culminaram com a libertação de Paris, em 25 de agosto, e posteriormente com a capitulação alemã na Segunda Guerra Mundial. Muitos estrangeiros, que integravam a Resistência Francesa, ajudaram a derrotar o ocupante nazista e ação de um brasileiro, Apolônio de Carvalho, foi determinante para a libertação das cidades de Carmaux, Albi e Toulouse, no sudoeste da França.

Militante comunista, Apolônio de Carvalho (1912-2005) foi um exemplo de solidariedade internacional. Ele combateu na Guerra Civil Espanhola, na Resistência Francesa e no Brasil contra as ditaduras de Vargas e Militar. Por isso, entrou para a história como o “herói de três pátrias”.

Todas essas batalhas foram importantes, mas a vitória contra as forças nazistas em 1944 foi especial.

“Nós tínhamos sido derrotados no Brasil em 1935, na Espanha, mas pela primeira vez nós tínhamos a alegria de uma vitória geral, com exemplos de dignidade e de coragem de todos os continentes”, lembrou o próprio Apolônio de Carvalho no documentário “Vale a Pena Sonhar”, de Stella Grisotti e Rudi Böhm.

O combatente brasileiro chegou à França em 1939 com 27 anos, depois que as Brigadas Internacionais foram expulsas da Espanha. Ao atravessar a fronteira, foi internado pelo governo francês em campos de concentração do sul do país ao lado de outros militantes e conseguiu fugir.

Em Marselha, integrou o grupo FTP-MOI (Franco-atiradores e Partidários – Mão de Obra Imigrante em tradução livre) da Resistência Francesa e participou de várias ações contra as forças alemãs, antes de comandar tropas da FFI (Forças Francesas do Interior) que ajudaram a libertar as cidades de Carmaux e Albi, entre 16 e 19 de agosto, na região de Toulouse.

O combate foi intenso, “A batalha de Carmaux durou de 16 a 18 de agosto. Na manhã do dia 19, Apolônio de Carvalho seguiu para Albi e, sem esperar o aval de sua direção, ocupou a cidade. Os alemães tentaram um contra-ataque, mas fracassaram. Carmaux e Albi estão entre as primeiras cidades a serem liberadas na França, (depois do desembarque aliado)", conta Alain Viguier, biógrafo de Apolônio de Carvalho na França. Para Viguier, essas vitórias marcaram "a história de Apolônio. Foi como a apoteose do engajamento dele”.

Encontro com Renée, resistente francesa

Em Marselha, Apolônio de Carvalho conheceu a jovem resistente francesa Renée Laugery, de 17 anos, que passou a ser a sua companheira de vida e de luta. Em 1944, ela estava grávida do primeiro filho do casal e usou a gravidez como “estratégia para fazer ações” relembra seu segundo filho, Raul de Carvalho.

“Meu pai era muito otimista. Então, não sei se foi por acidente, mas o fato é que meu irmão nasceu antes do fim da guerra, ou seja, minha mãe participou da resistência grávida. E eles usavam o fato dela estar grávida para carregar coisas: dinamite, explosivos, armas, etc., junto com a barriga. Uma coisa extraordinária, né?", detalha.

Apolônio de Carvalho escreve em seu livro de memórias “Vale a Pena Sonhar” (Rocco, 1997) que, no dia 20 de agosto, “todo o sudoeste da França – um quarto do país - estava liberto graças a seus soldados sem uniforme; e com a participação crescente do povo, e sem a presença de um único soldado das forças aliadas”.

No final da guerra, já em Paris libertada, o brasileiro recebeu as condecorações francesas da Legião de Honra e Cruz da Guerra e a medalha da Resistência. Mas hoje sua ação é praticamente desconhecida do grande público. Por isso, Alain Viguier, que conheceu pessoalmente Apolônio em Paris nos anos 1970, decidiu escrever a biografia “La Puissance de l’Espoir” (O Poder da Esperança, Syllepse, 2023) sobre o “combatente internacionalista”:

"Além dele ser bastante desconhecido na França, achei necessário escrever uma biografia do Apolônio porque ele é um militante que percorreu e participou dos grandes combates do século 20. Ele tinha uma personalidade iluminada, segundo algumas pessoas, e um engajamento muito particular”, explica o biógrafo.

Participação dos estrangeiros na Resistência

Quem também contribui para a divulgação da ação de Apolônio de Carvalho é Stela Grisotti, diretora do documentário “Vale a Pena Sonhar”. Desde 2005, a jornalista e documentarista brasileira teve a oportunidade de mostrar o filme várias vezes na França e ficou impressionada com a receptividade dos franceses.

"Os franceses ficam impressionados como um brasileiro teve essa coragem e essa solidariedade de lutar também lá na França. Ele podia estar no Brasil vivendo com mais tranquilidade, mas estava lá lutando também", relata Grisotti. A jornalista diz acaba sempre "conectada com a França e com os franceses através do Apolônio e da Renée em função desse interesse, que vem crescendo, dos franceses em conhecer um pouco da história e da participação dos estrangeiros na Resistência". Uma participação "que foi super importante, ressalta.

A contribuição determinante dos combatentes estrangeiros FTP-MOI na Resistência só começou a ser devidamente reconhecida na França este ano após a entrada no Panteão do casal de militantes comunistas de origem armênia Missak e Mélinée Manouchian.

A ação do grupo de Manouchian, fuzilado pelos nazistas, foi imortalizada pelo poema de Louis Aragon, Affiche Rouge, transformado em música por Léo Ferré. Mas na opinião de Alain Viguier esse reconhecimento ficou restrito aos estrangeiros que atuavam na região parisiense.

"O papel dos FTP-MOI no resto da França é bastante ignorado. Tomo como exemplo a liberação de Carmaux. Um general da Resistência fez um balanço detalhado da batalha e Apolônio de Carvalho não existe neste documento. Somente o pseudônimo que ele usava na época, comandante 'Rodelle', é citado”, afirma Viguier. O biógrafo explica que Apolônio tinha vários pseudônimos.

Se a ação do brasileiro é pouco conhecida, a de Renée, como a de muitas outras mulheres da Resistência, foi invisibilizada.

“Nós vivemos numa sociedade muito machista. E, de fato, minha mãe era particularmente uma pessoa muito revoltada com isso porque na Resistência e, depois, aqui (no Brasil) no Partido Comunista Brasileiro, as mulheres tinham um papel muito secundário. Não havia uma visão de igualdade. Via-se um machismo mesmo, um paternalismo muito grande. E minha mãe foi muito batalhadora contra isso. Mas vai demorar muito até a gente ter algum avanço maior”, critica Raul de Carvalho.

Internacionalistas

Alain Viguier e Raul de Carvalho ressaltam também que, ao contrário do que dizem muitos historiadores franceses, o amor pela França não explica por si só o engajamento de estrangeiros, como Apolônio de Carvalho, na Resistência:

"O Apolônio sempre se colocou como internacionalista. Ele fez isso somente pela luta pela democracia, contra o fascismo. Evidentemente ele tinha uma grande admiração pela França, pela cultura francesa, pelo país, pela história do país, mas ele nunca pensou nisso. Ele sempre se disse internacionalista", garante o filho.

Raul de Carvalho diz que “para azar” do pai, o Partido Comunista o mandou voltar ao Brasil, em 1945, onde o casal continuou militando e depois teve de entrar na clandestinidade quando a legenda foi declarada ilegal.

"Eles tinham vivido uma guerra, uma libertação. Eu acho que a França viveu naquele momento uma coisa maravilhosa, a França e a Europa que se libertou. Mil perspectivas, ali se respirava liberdade e uma porção de elementos que poderiam levar ao progresso da humanidade mais intenso, a uma vida mais intensa", avalia. Ele detalha que o casal "passaram 10 anos subsumidos numa clandestinidade um tanto absurda. Então, foi um azar mesmo porque lá (na França) ele poderia ter feito muito mais do que fez aqui e teria vivido muito mais do que viveu aqui. Eu inclusive teria nascido lá", afirma, rindo. O segundo filho do casal nasceu em agosto de 1947 no Rio de Janeiro e passou grande parte de sua infância na clandestinidade, junto com os pais.

Luta contra a Ditadura Militar

Nos anos 1960, Apolônio de Carvalho foi um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Ao lado dos dois filhos, René Louis e Raul, lutou contra a Ditadura Militar, foi preso, torturado e exilado na França, depois de uma grande batalha para a obtenção de um visto de residência. No contexto da Guerra Fria, o governo francês passou a considerar o “herói da Resistência” como um terrorista. Com a Anistia, a família Carvalho foi uma das primeiras a voltar ao Brasil e Apolônio participou da fundação do PT.

Apesar de tantos feitos, a história do veterano militante é desconhecida também no Brasil, lamenta Stela Grisotti:

"No Brasil, não é só o Apolônio. A gente tem um problema sério com a memória, história e isso desde a escravidão, né? A questão indígena também é sempre deixada de lado. Então eu acho que é uma questão estrutural do Brasil em relação à memória. Então, dentro desse contexto, quem é Apolônio? E quantos heróis brasileiros esquecidos", denuncia a documentarista.

Apolônio de Carvalho morreu em 2005, aos 93 anos. Pouco antes de sua morte, continuava um entusiasta, acreditando na transformação da sociedade.

“Para viver, é preciso merecer viver. A vida é uma coisa extraordinária. É um dom. É preciso valorizá-la. Para isso, é preciso ter um ideal nessa vida para torná-la melhor e para tornar a sociedade melhor”, defendeu no documentário "Vale a Pena Sonhar".

As festas para lembrar os 80 anos da libertação de Carmaux e Albi, libertas com a ajuda do brasileiro Apolônio de Carvalho, acontecem nos dias 17 e 19 de agosto, respectivamente, antes das festividades em Paris, em 25 de agosto.

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Nesta quinta-feira (15), a França lembra os 80 anos do desembarque na Provence, no sul do país. A cerimônia contou com a presença do presidente Emmanuel Macron. Desde 6 de junho, o Dia D do desembarque aliado da Normandia, uma série de eventos recordam os 80 anos das jornadas que culminaram com a libertação de Paris, em 25 de agosto, e posteriormente com a capitulação alemã na Segunda Guerra Mundial. Muitos estrangeiros, que integravam a Resistência Francesa, ajudaram a derrotar o ocupante nazista e ação de um brasileiro, Apolônio de Carvalho, foi determinante para a libertação das cidades de Carmaux, Albi e Toulouse, no sudoeste da França.

Militante comunista, Apolônio de Carvalho (1912-2005) foi um exemplo de solidariedade internacional. Ele combateu na Guerra Civil Espanhola, na Resistência Francesa e no Brasil contra as ditaduras de Vargas e Militar. Por isso, entrou para a história como o “herói de três pátrias”.

Todas essas batalhas foram importantes, mas a vitória contra as forças nazistas em 1944 foi especial.

“Nós tínhamos sido derrotados no Brasil em 1935, na Espanha, mas pela primeira vez nós tínhamos a alegria de uma vitória geral, com exemplos de dignidade e de coragem de todos os continentes”, lembrou o próprio Apolônio de Carvalho no documentário “Vale a Pena Sonhar”, de Stella Grisotti e Rudi Böhm.

O combatente brasileiro chegou à França em 1939 com 27 anos, depois que as Brigadas Internacionais foram expulsas da Espanha. Ao atravessar a fronteira, foi internado pelo governo francês em campos de concentração do sul do país ao lado de outros militantes e conseguiu fugir.

Em Marselha, integrou o grupo FTP-MOI (Franco-atiradores e Partidários – Mão de Obra Imigrante em tradução livre) da Resistência Francesa e participou de várias ações contra as forças alemãs, antes de comandar tropas da FFI (Forças Francesas do Interior) que ajudaram a libertar as cidades de Carmaux e Albi, entre 16 e 19 de agosto, na região de Toulouse.

O combate foi intenso, “A batalha de Carmaux durou de 16 a 18 de agosto. Na manhã do dia 19, Apolônio de Carvalho seguiu para Albi e, sem esperar o aval de sua direção, ocupou a cidade. Os alemães tentaram um contra-ataque, mas fracassaram. Carmaux e Albi estão entre as primeiras cidades a serem liberadas na França, (depois do desembarque aliado)", conta Alain Viguier, biógrafo de Apolônio de Carvalho na França. Para Viguier, essas vitórias marcaram "a história de Apolônio. Foi como a apoteose do engajamento dele”.

Encontro com Renée, resistente francesa

Em Marselha, Apolônio de Carvalho conheceu a jovem resistente francesa Renée Laugery, de 17 anos, que passou a ser a sua companheira de vida e de luta. Em 1944, ela estava grávida do primeiro filho do casal e usou a gravidez como “estratégia para fazer ações” relembra seu segundo filho, Raul de Carvalho.

“Meu pai era muito otimista. Então, não sei se foi por acidente, mas o fato é que meu irmão nasceu antes do fim da guerra, ou seja, minha mãe participou da resistência grávida. E eles usavam o fato dela estar grávida para carregar coisas: dinamite, explosivos, armas, etc., junto com a barriga. Uma coisa extraordinária, né?", detalha.

Apolônio de Carvalho escreve em seu livro de memórias “Vale a Pena Sonhar” (Rocco, 1997) que, no dia 20 de agosto, “todo o sudoeste da França – um quarto do país - estava liberto graças a seus soldados sem uniforme; e com a participação crescente do povo, e sem a presença de um único soldado das forças aliadas”.

No final da guerra, já em Paris libertada, o brasileiro recebeu as condecorações francesas da Legião de Honra e Cruz da Guerra e a medalha da Resistência. Mas hoje sua ação é praticamente desconhecida do grande público. Por isso, Alain Viguier, que conheceu pessoalmente Apolônio em Paris nos anos 1970, decidiu escrever a biografia “La Puissance de l’Espoir” (O Poder da Esperança, Syllepse, 2023) sobre o “combatente internacionalista”:

"Além dele ser bastante desconhecido na França, achei necessário escrever uma biografia do Apolônio porque ele é um militante que percorreu e participou dos grandes combates do século 20. Ele tinha uma personalidade iluminada, segundo algumas pessoas, e um engajamento muito particular”, explica o biógrafo.

Participação dos estrangeiros na Resistência

Quem também contribui para a divulgação da ação de Apolônio de Carvalho é Stela Grisotti, diretora do documentário “Vale a Pena Sonhar”. Desde 2005, a jornalista e documentarista brasileira teve a oportunidade de mostrar o filme várias vezes na França e ficou impressionada com a receptividade dos franceses.

"Os franceses ficam impressionados como um brasileiro teve essa coragem e essa solidariedade de lutar também lá na França. Ele podia estar no Brasil vivendo com mais tranquilidade, mas estava lá lutando também", relata Grisotti. A jornalista diz acaba sempre "conectada com a França e com os franceses através do Apolônio e da Renée em função desse interesse, que vem crescendo, dos franceses em conhecer um pouco da história e da participação dos estrangeiros na Resistência". Uma participação "que foi super importante, ressalta.

A contribuição determinante dos combatentes estrangeiros FTP-MOI na Resistência só começou a ser devidamente reconhecida na França este ano após a entrada no Panteão do casal de militantes comunistas de origem armênia Missak e Mélinée Manouchian.

A ação do grupo de Manouchian, fuzilado pelos nazistas, foi imortalizada pelo poema de Louis Aragon, Affiche Rouge, transformado em música por Léo Ferré. Mas na opinião de Alain Viguier esse reconhecimento ficou restrito aos estrangeiros que atuavam na região parisiense.

"O papel dos FTP-MOI no resto da França é bastante ignorado. Tomo como exemplo a liberação de Carmaux. Um general da Resistência fez um balanço detalhado da batalha e Apolônio de Carvalho não existe neste documento. Somente o pseudônimo que ele usava na época, comandante 'Rodelle', é citado”, afirma Viguier. O biógrafo explica que Apolônio tinha vários pseudônimos.

Se a ação do brasileiro é pouco conhecida, a de Renée, como a de muitas outras mulheres da Resistência, foi invisibilizada.

“Nós vivemos numa sociedade muito machista. E, de fato, minha mãe era particularmente uma pessoa muito revoltada com isso porque na Resistência e, depois, aqui (no Brasil) no Partido Comunista Brasileiro, as mulheres tinham um papel muito secundário. Não havia uma visão de igualdade. Via-se um machismo mesmo, um paternalismo muito grande. E minha mãe foi muito batalhadora contra isso. Mas vai demorar muito até a gente ter algum avanço maior”, critica Raul de Carvalho.

Internacionalistas

Alain Viguier e Raul de Carvalho ressaltam também que, ao contrário do que dizem muitos historiadores franceses, o amor pela França não explica por si só o engajamento de estrangeiros, como Apolônio de Carvalho, na Resistência:

"O Apolônio sempre se colocou como internacionalista. Ele fez isso somente pela luta pela democracia, contra o fascismo. Evidentemente ele tinha uma grande admiração pela França, pela cultura francesa, pelo país, pela história do país, mas ele nunca pensou nisso. Ele sempre se disse internacionalista", garante o filho.

Raul de Carvalho diz que “para azar” do pai, o Partido Comunista o mandou voltar ao Brasil, em 1945, onde o casal continuou militando e depois teve de entrar na clandestinidade quando a legenda foi declarada ilegal.

"Eles tinham vivido uma guerra, uma libertação. Eu acho que a França viveu naquele momento uma coisa maravilhosa, a França e a Europa que se libertou. Mil perspectivas, ali se respirava liberdade e uma porção de elementos que poderiam levar ao progresso da humanidade mais intenso, a uma vida mais intensa", avalia. Ele detalha que o casal "passaram 10 anos subsumidos numa clandestinidade um tanto absurda. Então, foi um azar mesmo porque lá (na França) ele poderia ter feito muito mais do que fez aqui e teria vivido muito mais do que viveu aqui. Eu inclusive teria nascido lá", afirma, rindo. O segundo filho do casal nasceu em agosto de 1947 no Rio de Janeiro e passou grande parte de sua infância na clandestinidade, junto com os pais.

Luta contra a Ditadura Militar

Nos anos 1960, Apolônio de Carvalho foi um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Ao lado dos dois filhos, René Louis e Raul, lutou contra a Ditadura Militar, foi preso, torturado e exilado na França, depois de uma grande batalha para a obtenção de um visto de residência. No contexto da Guerra Fria, o governo francês passou a considerar o “herói da Resistência” como um terrorista. Com a Anistia, a família Carvalho foi uma das primeiras a voltar ao Brasil e Apolônio participou da fundação do PT.

Apesar de tantos feitos, a história do veterano militante é desconhecida também no Brasil, lamenta Stela Grisotti:

"No Brasil, não é só o Apolônio. A gente tem um problema sério com a memória, história e isso desde a escravidão, né? A questão indígena também é sempre deixada de lado. Então eu acho que é uma questão estrutural do Brasil em relação à memória. Então, dentro desse contexto, quem é Apolônio? E quantos heróis brasileiros esquecidos", denuncia a documentarista.

Apolônio de Carvalho morreu em 2005, aos 93 anos. Pouco antes de sua morte, continuava um entusiasta, acreditando na transformação da sociedade.

“Para viver, é preciso merecer viver. A vida é uma coisa extraordinária. É um dom. É preciso valorizá-la. Para isso, é preciso ter um ideal nessa vida para torná-la melhor e para tornar a sociedade melhor”, defendeu no documentário "Vale a Pena Sonhar".

As festas para lembrar os 80 anos da libertação de Carmaux e Albi, libertas com a ajuda do brasileiro Apolônio de Carvalho, acontecem nos dias 17 e 19 de agosto, respectivamente, antes das festividades em Paris, em 25 de agosto.

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