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Meca da moda, França vive onda de falências de marcas prêt-à-porter
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A fast fashion no mundo globalizado derruba algumas das marcas mais tradicionais do prêt-à-porter da França, berço de ícones da moda mundial. A crise no setor não vem de agora – desde o início dos anos 2010, as fabricantes francesas de vestuário e calçados sofrem com a concorrência do comércio online, ao qual demoraram a se adaptar.
A pandemia e os novos modos de consumo que dela decorreram aceleraram uma tendência de declínio que já estava instalada no país, revela um estudo do Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee). Em 2020, as vendas de roupas no país despencaram 22,6% e as de calçados, 19,8%, ao mesmo tempo em que o varejo em geral só recuou 2,5%. Na sequência, o crescimento das vendas se manteve inferior a 1%.
Este contexto, afirma o Insee, explica a queda brusca do número de lojas no país: de -18% das butiques de roupas e -26% das de calçados, entre 2014 e 2021. “Tem uma correção de mercado que se opera desde 2013. Ela continua e, infelizmente, não temos razão para pensar que ela terminou”, constata Gildas Minvielle, diretor do Observatório Econômico do Instituto Francês da Moda.
O especialista salienta que a moda francesa demorou a acreditar na força do comércio online – e perdeu tempo ao focar os investimentos em novas lojas físicas, em vez de no desenvolvimento de sites modernos. Depois, os anos de inflação alta e queda do poder aquisitivo levaram os consumidores a serem mais sensíveis ao fator preço.
O golpe final veio da China, com a chegada avassaladora das plataformas Shein e Temu no mercado europeu, desafiando os valores praticados pelas marcas de fast fashion bem implantadas no bloco, como a sueca H&M, as espanholas Zara e Mango e a irlandesa Primark.
“Quando vemos atores como Shein, que chegam e tomam conta do mercado de uma forma muito agressiva, deveríamos poder controlar melhor o fato de que os consumidores aqui não tenham de pagar direitos de importação. Isso não é normal”, aponta Minvielle. “Mas, para ser totalmente honesto, não tenho certeza de que isso mudaria alguma coisa, até porque a Shein não é única que derrubou os preços.”
Num contexto de concorrência cada vez mais feroz, na França o prêt-à-porter de baixo e médio custo é o mais atingido, vítima direta desta nova configuração. Redes como Camaïeu, Kookai, Naf-Naf, Pimkie e GoSport ou faliram, ou foram obrigadas a só operar pela internet. No ramo calçadista, as tradicionais André e San Marina enfrentam o mesmo destino.
Roupas de segunda mão já pesam no mercado
A emergência do fenômeno das compras de segunda mão, em lojas físicas como pela internet, também já impacta o desempenho do mercado de roupas e calçados novos. As vendas de usados pesavam, em 2022, entre US$ 100 e US$ 120 bilhões, em nível mundial, de acordo com um estudo da consultoria Boston Consulting Groupe (BCG) realizado a pedido da plataforma francesa Vestiaire Collective, um dos principais nomes da revenda de segunda mão no país. O volume representa três de 3% a 5% do total do setor e triplicou desde 2020. Segundo este relatório, nos próximos anos, as compras de peças usadas poderão atingir 40% do mercado, impulsionadas pelos jovens.
Nos países europeus, a faixa etária de até 30 anos já se acostumou a só comprar em brechós ou em plataformas especializadas, em busca de preços mais baixos e peças exclusivas, mas também por preocupação com o impacto ambiental do consumo. Numa tentativa de se adaptar à tendência, a maioria das grandes lojas francesas – entre elas a famosa Galeries Lafayette – instalou um “canto das usadas”. No espaço, as clientes podem comprar e revender as suas peças da marca.
Aposta na qualidade francesa
Gildas Minvielle avalia, entretanto, que o prêt-à-porter novo ainda tem dias promissores pela frente, à condição de apostar na qualidade e em subcategorias mais especializadas, como moda sustentável, marinha ou o chamado luxo acessível.
“Não são volumes como os da Camaïeu, da Zara ou da H&M, claro. Mas temos muitas marcas fortes em todas as gamas de preços. Não acho que tenhamos uma gama que esteja condenada a desaparecer”, aposta o diretor do Observatório Econômico do Instituto Francês da Moda. “Elas precisarão se distinguir, num mercado complexo e com muita concorrência, mas não é impossível.”
Outro conselho do especialista é investir mais na comunicação sobre as condições de fabricação dos produtos franceses, incluindo as normas ambientais, e sobre a importância do apoio às marcas nacionais para a economia do país.
“Acho que pode ser o futuro da moda e espero que haverá várias empresas que vão se distinguir das produções ‘low cost’, como Shein e Temu, e estarão atentas à qualidade. O setor de alimentação viu acontecer essa revolução: hoje os franceses são muito mais sensíveis à origem dos produtos que consomem”, ressalta Minvielle.
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A fast fashion no mundo globalizado derruba algumas das marcas mais tradicionais do prêt-à-porter da França, berço de ícones da moda mundial. A crise no setor não vem de agora – desde o início dos anos 2010, as fabricantes francesas de vestuário e calçados sofrem com a concorrência do comércio online, ao qual demoraram a se adaptar.
A pandemia e os novos modos de consumo que dela decorreram aceleraram uma tendência de declínio que já estava instalada no país, revela um estudo do Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee). Em 2020, as vendas de roupas no país despencaram 22,6% e as de calçados, 19,8%, ao mesmo tempo em que o varejo em geral só recuou 2,5%. Na sequência, o crescimento das vendas se manteve inferior a 1%.
Este contexto, afirma o Insee, explica a queda brusca do número de lojas no país: de -18% das butiques de roupas e -26% das de calçados, entre 2014 e 2021. “Tem uma correção de mercado que se opera desde 2013. Ela continua e, infelizmente, não temos razão para pensar que ela terminou”, constata Gildas Minvielle, diretor do Observatório Econômico do Instituto Francês da Moda.
O especialista salienta que a moda francesa demorou a acreditar na força do comércio online – e perdeu tempo ao focar os investimentos em novas lojas físicas, em vez de no desenvolvimento de sites modernos. Depois, os anos de inflação alta e queda do poder aquisitivo levaram os consumidores a serem mais sensíveis ao fator preço.
O golpe final veio da China, com a chegada avassaladora das plataformas Shein e Temu no mercado europeu, desafiando os valores praticados pelas marcas de fast fashion bem implantadas no bloco, como a sueca H&M, as espanholas Zara e Mango e a irlandesa Primark.
“Quando vemos atores como Shein, que chegam e tomam conta do mercado de uma forma muito agressiva, deveríamos poder controlar melhor o fato de que os consumidores aqui não tenham de pagar direitos de importação. Isso não é normal”, aponta Minvielle. “Mas, para ser totalmente honesto, não tenho certeza de que isso mudaria alguma coisa, até porque a Shein não é única que derrubou os preços.”
Num contexto de concorrência cada vez mais feroz, na França o prêt-à-porter de baixo e médio custo é o mais atingido, vítima direta desta nova configuração. Redes como Camaïeu, Kookai, Naf-Naf, Pimkie e GoSport ou faliram, ou foram obrigadas a só operar pela internet. No ramo calçadista, as tradicionais André e San Marina enfrentam o mesmo destino.
Roupas de segunda mão já pesam no mercado
A emergência do fenômeno das compras de segunda mão, em lojas físicas como pela internet, também já impacta o desempenho do mercado de roupas e calçados novos. As vendas de usados pesavam, em 2022, entre US$ 100 e US$ 120 bilhões, em nível mundial, de acordo com um estudo da consultoria Boston Consulting Groupe (BCG) realizado a pedido da plataforma francesa Vestiaire Collective, um dos principais nomes da revenda de segunda mão no país. O volume representa três de 3% a 5% do total do setor e triplicou desde 2020. Segundo este relatório, nos próximos anos, as compras de peças usadas poderão atingir 40% do mercado, impulsionadas pelos jovens.
Nos países europeus, a faixa etária de até 30 anos já se acostumou a só comprar em brechós ou em plataformas especializadas, em busca de preços mais baixos e peças exclusivas, mas também por preocupação com o impacto ambiental do consumo. Numa tentativa de se adaptar à tendência, a maioria das grandes lojas francesas – entre elas a famosa Galeries Lafayette – instalou um “canto das usadas”. No espaço, as clientes podem comprar e revender as suas peças da marca.
Aposta na qualidade francesa
Gildas Minvielle avalia, entretanto, que o prêt-à-porter novo ainda tem dias promissores pela frente, à condição de apostar na qualidade e em subcategorias mais especializadas, como moda sustentável, marinha ou o chamado luxo acessível.
“Não são volumes como os da Camaïeu, da Zara ou da H&M, claro. Mas temos muitas marcas fortes em todas as gamas de preços. Não acho que tenhamos uma gama que esteja condenada a desaparecer”, aposta o diretor do Observatório Econômico do Instituto Francês da Moda. “Elas precisarão se distinguir, num mercado complexo e com muita concorrência, mas não é impossível.”
Outro conselho do especialista é investir mais na comunicação sobre as condições de fabricação dos produtos franceses, incluindo as normas ambientais, e sobre a importância do apoio às marcas nacionais para a economia do país.
“Acho que pode ser o futuro da moda e espero que haverá várias empresas que vão se distinguir das produções ‘low cost’, como Shein e Temu, e estarão atentas à qualidade. O setor de alimentação viu acontecer essa revolução: hoje os franceses são muito mais sensíveis à origem dos produtos que consomem”, ressalta Minvielle.
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