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Interser #9 | Contemplações sobre a história da violência (com Leandro Rust)

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O convidado da vez coluna Interser é o historiador medievalista Leandro Duarte Rust, da UnB. A conversa pode ser apresentada tanto como uma conversa sobre escrever a história da violência quanto como uma conversa sobre fazer tal coisa a serviço da não-violência. O pretexto é a publicação do livro Os Vikings: narrativas da violência na Idade Média (Vozes, 2021). Esse não é exatamente um livro sobre a violência das invasões vikings, mas uma análise das narrativas sobre tais invasões escritas no Império Carolíngio no século IX. Então, em alguma medida, a conversa trata da história da violência, e das histórias de histórias sobre violência. Mas definitivamente não fizemos uma conversa apenas para pessoas interessadas em história, nem especificamente em história medieval ou na história dos vikings. Investigar o passado é também, ou é bom que seja, investigar os referenciais que levamos à nossa investigação do passado. O próprio livro do Leandro dá um grande enfoque a vários aspectos dessa relação entre quem conhece e aquilo que é conhecido, e foi isso que discutimos em boa parte da conversa: pra começar, a instabilidade do conceito de "violência" e as consequências de presumirmos já de partida que temos a régua do que é ou não violento. Isso certamente limita a capacidade de historiadora(e)s de entender ações passadas e narrativas passadas, mas diz respeito também à nossa existência no mundo presente. Nessa mesma linha, discutimos também o papel da imaginação em nossa relação com o passado e o presente, a ideia de "estranhamento", a importância de expressar as incertezas na comunicação científica, dentre outras coisas. A conversa, como o livro do Leandro, pode ser vista ainda como uma perspectiva em prol da não-violência, interessada em não violência, tratando sobre processos violentos, escrita em um presente igualmente cheio de violências. Paul Ricoeur afirma, em um trecho utilizado pelo Leandro como epígrafe do livro: "A primeira condição à qual deve satisfazer uma doutrina autêntica da não violência é de haver varado toda a espessura do mundo da violência". Afinal, alerta ele, "um movimento não violento corre sempre o risco de limitar a ideia de violência a uma forma particular, à qual se opõe com obstinação e estreiteza...". As nossas concepções de violência nos cegam para outras ações, instituições, estruturas que violam a dignidade dos seres, criam hierarquias que desvalorizam suas vidas, habilidades, sua voz, mas que não reconhecemos como violentas. Então fica o desejo de que uma conversa sobre um aspecto desse mundo da violência e de sua abordagem aqui do presente dialogue com o desejo de quem nos ouve por um mundo não violento. Se você quiser apoiar o nosso projeto, é só ir em apoia.se/coemergencia. Tem muito coisa boa vindo por aí sobre questões climáticas, trauma e temas afins. ;)
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