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“Saudade, ici et là-bas”, as histórias e os acordes da lusofonia em Avignon
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“Saudade, ici et là-bas” está pelo segundo ano consecutivo no Festival Off de Avignon. As memórias, os cheiros, os sons e paladares que contam as histórias dos que já cá não estão, pintadas com os acordes da lusofonia! A autoria é de Isabel Ribeiro e conta com a participação do músico Dan Inger dos Santos.
RFI: Isabel Ribeiro é a autora deste espectáculo, qual é a temática do “Saudade, ici et là-bas”?
Isabel Ribeiro: A temática é a emigração portuguesa em França. Mas nem só. É uma história também de uma família que vende a casa dos pais em Portugal. Por isso, também é um assunto universal. É também uma história de amor.
Uma história de amor para com o país, uma história de amor para com as recordações dos pais. Uma história de amor entre os pais?
Isabel Ribeiro: Sim, sim, é o amor com esse país, com essa cultura, essa ligação que temos com a história desse país, até mesmo quando estamos longe. É essa ligação através das gerações também.
Este é o segundo ano consecutivo que a peça está em Avignon. Quais são as alterações que o espectáculo sofreu ao longo deste tempo?
Isabel Ribeiro: Agora temos um novo actor em palco, por isso tivemos que nos adaptar um bocadinho às proposições dele. E afinal é sempre uma coisa positiva, porque fez com que o espectáculo evoluísse e nós, também, temos que procurar novas maneiras de ver os nossos papéis, as personagens. Não nos habituarmos, é uma maneira de fazer evoluir a história e evoluir a trajectórias desses personagens.
Temos uma ou duas canções a mais agora também no espectáculo. Quer dizer, é um espectáculo vivo.
É um espectáculo vivo que acaba por crescer e por se adaptar ao longo do tempo?
Isabel Ribeiro: É isso tudo! E também quando falamos com o público depois das representações, é sempre maneira de reflectir na maneira de apresentar a história. E porque não tentar? Porque eles vêm com perguntas, com pensamentos sobre o trabalho que viram em palco. Então nós pensamos: e porque não tentar assim, dessa maneira, como eles pensaram que podia ser possível de interpretar essa história?
Dan Inger dos Santos: E, depois, as observações do encenador quando vem com a gente aos vários teatros onde actuamos e, certamente, há ainda a adaptação ao local, ao espaço do teatro. Adaptamos a peça ao teatro, ao sítio. Por exemplo, fomos actuar no Mónaco. O palco não tinha pano de fundo. Era um muro em pedra com três janelas. Isso fez com que a peça tivesse um novo início, porque adaptámos a peça ao sítio, ao teatro.
Isabel Ribeiro: Deu outro ritmo ao início da peça e, afinal, quando estivemos no teatro seguinte, pensámos que temos de encontrar aqui nesse sítio esse dinamismo que tivemos no outro teatro, porque havia esse cenário diferente. Então tentamos sim adaptar-nos.
Há algum reflexo da vossa vida pessoal, da história da vossa família?
Dan Inger dos Santos: Sempre um pouco, mas não é uma peça biográfica. Mas há sempre uma parte de nós em cada papel. Mesmo assim, a história não é bem a mesma. No meu papel há sempre os sentimentos que levo da minha história, da história dos meus pais.
Isabel Ribeiro: Sim, eu inspirei-me um pouco da história da minha família, dos meus pais, um bocado, mas nem só, dos meus tios, das minhas tias e amigos à volta de nós e, também, de outras pessoas que conheci porque tive ocasião de fazer entrevistas também a certas pessoas.
Falando com elas e depois também lendo testemunhos de percursos como esses, deu-me essa ideia de fazer uma história. Uma história que representa essas histórias todas, essas pessoas todas que migraram. Chamamos-lhes de Manuel e Ilda, são eles todos nessas duas personagens e nessa história.
Porque é que decidiu este caminho de falar sobre a imigração, sobre as dificuldades de terem vindo para França, as esperanças que se criam e as desilusões que também existem?
Isabel Ribeiro: É uma ideia que tive há mais de dez anos, quando queria realizar um documentário sobre esse assunto, mas nunca tive a possibilidade. Depois, quando vieram falar comigo e dizer que eu tinha que criar uma história sobre a cultura portuguesa no palco, pensei que seria uma boa oportunidade para contar essa imigração de um povo que não fala muito, não transmitia muito.
Nós, a descendência, sentíamos sempre que havia ali qualquer coisa a descobrir. Falar directamente com as pessoas não era fácil, porque eles não conseguiam falar e nós também tínhamos medo. Parece que ou iam ficar zangados ou iam chorar. Não sabíamos qual iria ser a reacção deles, mas é um assunto que eu acho indispensável, porque é uma parte da história que já aconteceu há muito tempo. Essas pessoas já têm uma idade avançada e alguns já faleceram.
Não podemos esquecer que temos a missão de transmitir e para mim também era a maneira de fazer um reconhecimento a essa geração, uma homenagem a essa geração tão discreta, tão silenciosa, essa “comunidade silenciosa” como costumava ser chamada cá em França e mostrar que é um percurso cheios de coragem e de esperança. Sobretudo quando se vê o que se passa agora na sociedade, no mundo. A história é sempre uma repetição. É também uma maneira de dizer que é um assunto actual e é uma necessidade, porque nós, a descendência, ficamos com essas bagagens que não sabemos bem como utilizá-las.
A peça também é pintada com música, que não é só portuguesa, até porque começa com “Sodade” de Cesária Évora, com acordes da lusofonia. Como é que chegaram a este rol musical?
Isabel Ribeiro: Era essencial para mim e para o encenador. Ele queria música. Queríamos uma viagem, mas eu também queria mostrar a lusofonia. Queria mostrar esse poder da língua portuguesa, essa presença portuguesa em vários países do mundo através da música.
E que a música também não é só o fado.
Isabel Ribeiro: Não é só o fado, não.
Dan Inger dos Santos: Morna, Bossa Nova…
Isabel Ribeiro: E as pessoas quando saem da peça, em geral, perguntam que canções são essas? Quem são os artistas? Nós ficamos contentes porque também é uma maneira das pessoas procurarem e verem o que se passa musicalmente em Portugal.
O fado é aquele cartão-de-visita de Portugal. Mas não é só isso, claro.
Quando e onde é que a peça pode ser vista em Avignon?
Isabel Ribeiro:Até ao dia 18 [de Julho] às 19h40, no Théâtre des 3S, 4 rue Buffon, em Avignon e depois - esperamos - em França toda.
Dan Inger dos Santos: O meu orgulho com essa peça é que falamos, certamente, muito dos portugueses, mas é uma peça que apresenta Portugal também ao público francês e que dá conhecimento da história de Portugal.
27 ตอน
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“Saudade, ici et là-bas” está pelo segundo ano consecutivo no Festival Off de Avignon. As memórias, os cheiros, os sons e paladares que contam as histórias dos que já cá não estão, pintadas com os acordes da lusofonia! A autoria é de Isabel Ribeiro e conta com a participação do músico Dan Inger dos Santos.
RFI: Isabel Ribeiro é a autora deste espectáculo, qual é a temática do “Saudade, ici et là-bas”?
Isabel Ribeiro: A temática é a emigração portuguesa em França. Mas nem só. É uma história também de uma família que vende a casa dos pais em Portugal. Por isso, também é um assunto universal. É também uma história de amor.
Uma história de amor para com o país, uma história de amor para com as recordações dos pais. Uma história de amor entre os pais?
Isabel Ribeiro: Sim, sim, é o amor com esse país, com essa cultura, essa ligação que temos com a história desse país, até mesmo quando estamos longe. É essa ligação através das gerações também.
Este é o segundo ano consecutivo que a peça está em Avignon. Quais são as alterações que o espectáculo sofreu ao longo deste tempo?
Isabel Ribeiro: Agora temos um novo actor em palco, por isso tivemos que nos adaptar um bocadinho às proposições dele. E afinal é sempre uma coisa positiva, porque fez com que o espectáculo evoluísse e nós, também, temos que procurar novas maneiras de ver os nossos papéis, as personagens. Não nos habituarmos, é uma maneira de fazer evoluir a história e evoluir a trajectórias desses personagens.
Temos uma ou duas canções a mais agora também no espectáculo. Quer dizer, é um espectáculo vivo.
É um espectáculo vivo que acaba por crescer e por se adaptar ao longo do tempo?
Isabel Ribeiro: É isso tudo! E também quando falamos com o público depois das representações, é sempre maneira de reflectir na maneira de apresentar a história. E porque não tentar? Porque eles vêm com perguntas, com pensamentos sobre o trabalho que viram em palco. Então nós pensamos: e porque não tentar assim, dessa maneira, como eles pensaram que podia ser possível de interpretar essa história?
Dan Inger dos Santos: E, depois, as observações do encenador quando vem com a gente aos vários teatros onde actuamos e, certamente, há ainda a adaptação ao local, ao espaço do teatro. Adaptamos a peça ao teatro, ao sítio. Por exemplo, fomos actuar no Mónaco. O palco não tinha pano de fundo. Era um muro em pedra com três janelas. Isso fez com que a peça tivesse um novo início, porque adaptámos a peça ao sítio, ao teatro.
Isabel Ribeiro: Deu outro ritmo ao início da peça e, afinal, quando estivemos no teatro seguinte, pensámos que temos de encontrar aqui nesse sítio esse dinamismo que tivemos no outro teatro, porque havia esse cenário diferente. Então tentamos sim adaptar-nos.
Há algum reflexo da vossa vida pessoal, da história da vossa família?
Dan Inger dos Santos: Sempre um pouco, mas não é uma peça biográfica. Mas há sempre uma parte de nós em cada papel. Mesmo assim, a história não é bem a mesma. No meu papel há sempre os sentimentos que levo da minha história, da história dos meus pais.
Isabel Ribeiro: Sim, eu inspirei-me um pouco da história da minha família, dos meus pais, um bocado, mas nem só, dos meus tios, das minhas tias e amigos à volta de nós e, também, de outras pessoas que conheci porque tive ocasião de fazer entrevistas também a certas pessoas.
Falando com elas e depois também lendo testemunhos de percursos como esses, deu-me essa ideia de fazer uma história. Uma história que representa essas histórias todas, essas pessoas todas que migraram. Chamamos-lhes de Manuel e Ilda, são eles todos nessas duas personagens e nessa história.
Porque é que decidiu este caminho de falar sobre a imigração, sobre as dificuldades de terem vindo para França, as esperanças que se criam e as desilusões que também existem?
Isabel Ribeiro: É uma ideia que tive há mais de dez anos, quando queria realizar um documentário sobre esse assunto, mas nunca tive a possibilidade. Depois, quando vieram falar comigo e dizer que eu tinha que criar uma história sobre a cultura portuguesa no palco, pensei que seria uma boa oportunidade para contar essa imigração de um povo que não fala muito, não transmitia muito.
Nós, a descendência, sentíamos sempre que havia ali qualquer coisa a descobrir. Falar directamente com as pessoas não era fácil, porque eles não conseguiam falar e nós também tínhamos medo. Parece que ou iam ficar zangados ou iam chorar. Não sabíamos qual iria ser a reacção deles, mas é um assunto que eu acho indispensável, porque é uma parte da história que já aconteceu há muito tempo. Essas pessoas já têm uma idade avançada e alguns já faleceram.
Não podemos esquecer que temos a missão de transmitir e para mim também era a maneira de fazer um reconhecimento a essa geração, uma homenagem a essa geração tão discreta, tão silenciosa, essa “comunidade silenciosa” como costumava ser chamada cá em França e mostrar que é um percurso cheios de coragem e de esperança. Sobretudo quando se vê o que se passa agora na sociedade, no mundo. A história é sempre uma repetição. É também uma maneira de dizer que é um assunto actual e é uma necessidade, porque nós, a descendência, ficamos com essas bagagens que não sabemos bem como utilizá-las.
A peça também é pintada com música, que não é só portuguesa, até porque começa com “Sodade” de Cesária Évora, com acordes da lusofonia. Como é que chegaram a este rol musical?
Isabel Ribeiro: Era essencial para mim e para o encenador. Ele queria música. Queríamos uma viagem, mas eu também queria mostrar a lusofonia. Queria mostrar esse poder da língua portuguesa, essa presença portuguesa em vários países do mundo através da música.
E que a música também não é só o fado.
Isabel Ribeiro: Não é só o fado, não.
Dan Inger dos Santos: Morna, Bossa Nova…
Isabel Ribeiro: E as pessoas quando saem da peça, em geral, perguntam que canções são essas? Quem são os artistas? Nós ficamos contentes porque também é uma maneira das pessoas procurarem e verem o que se passa musicalmente em Portugal.
O fado é aquele cartão-de-visita de Portugal. Mas não é só isso, claro.
Quando e onde é que a peça pode ser vista em Avignon?
Isabel Ribeiro:Até ao dia 18 [de Julho] às 19h40, no Théâtre des 3S, 4 rue Buffon, em Avignon e depois - esperamos - em França toda.
Dan Inger dos Santos: O meu orgulho com essa peça é que falamos, certamente, muito dos portugueses, mas é uma peça que apresenta Portugal também ao público francês e que dá conhecimento da história de Portugal.
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